quarta-feira, 1 de abril de 2009


Metade



Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio


que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.


Que a música que ouço ao longeseja linda ainda que tristeza que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto num doce sorrisoque eu me lembro ter dado na infância porque metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade não sei.


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.


E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.


Oswaldo Montenegro

Nenhum comentário:

Postar um comentário