segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A FÉ !


O homem tem sua fé abalada quando menos espera... passa por acontecimentos que mexem com seu subconsciente, demonstrando dúvidas por assuntos em que antes tinha certeza absoluta.

Marcelo é bombeiro há treze anos. Militar regrado, não deixa-se abater por pequenas coisas; ama sua profissão, sua família e seus bens materiais. Trabalha com orgulho e vontade, arrancando elogios até de colegas desmotivados.
Mas, com a experiência que os anos trouxeram, Marcelo se viu um tanto revoltado: “Como é possível tanta injustiça neste mundo?”
“Qual é o critério de Deus para o desenrolar da vida humana?”

Tudo começou com um atropelamento, num domingo de manhã. Um menino de 7 anos colhido na calçada por um motorista que perseguia furiosamente um outro veículo que, ao que parece, fechara-o algumas esquinas antes.
A criança teve morte instantânea. A cena do corpo não era tão angustiante (já havia participado de outras parecidas); o que fez Marcelo tremer foi a imagem da mãe com o filho morto nos braços... a expressão de dor sem histerismo, silenciosamente perturbadora mexeu com o equilíbrio do bombeiro.
Marcelo chegou no quartel e seguiu direto para o alojamento. Chorou, e chorou, e chorou... lembrava de seu filho, que naquele momento deveria estar na escola; não parava de pensar naquela mãe, com seus olhos suplicando a morte para ela também.

Algum tempo depois, nova ocorrência: num ajuste de contas entre traficantes, um deles havia sido alvejado a tiros de forma impiedosa – dois projéteis na cabeça, dois no tórax, um no abdome e mais dois nos braços. Detalhe: a vítima encontrava-se plenamente consciente.
O traficante de drogas chegou ao hospital conversando; salvou-se, e depois de três semanas estava nas ruas novamente.
Marcelo odiou profundamente aquele homem. Todas as vezes que passava por aquele lugar avistava o traficante; o bombeiro controlava seus ímpetos de descer da viatura e enforcá-lo cruelmente com as próprias mãos, até que visse a luz esvair-se dos olhos do bandido.
“De fato, Deus não existe!”
“É impossível que Deus exista!!!”

Marcelo mudou completamente. Já não tinha tanto prazer de trabalhar no Corpo de Bombeiros! Ficou desleixado, absorto na maior parte do tempo, reclamando de tudo e de todos.
Não encontrava ânimo para instruções e treinamentos; todos os atendimentos eram motivos de revolta:
“- Como este imbecil conseguiu ser atropelado nesta rua deserta?”
“- Se este velho idiota estivesse em casa, não teria caído e quebrado a perna...”
“- Burra! Sai de casa e esquece a panela no fogo!”
Tudo caminhava neste pé, quando mais uma vez o destino aprontou com Marcelo:

Noite. Fim-de-semana. Cidade vazia.
Marcelo, motorista da viatura de resgate, desloca-se em velocidade e com sirene ligada para uma suspeita de parada cárdio-respiratória; avançava por uma rua escura quando, de repente, avistou na calçada à sua esquerda uma mulher agitando freneticamente os braços. Diminuiu a marcha, freando o carro aos poucos, quando surge à sua frente, vindo correndo da direita, um menino, de aproximadamente 7 anos.
Brecou. Com o susto, a criança estancou, paralisada; uma mulher saiu da casa logo em seguida, assustada, abraçando o filho.
A mulher que havia avisado Marcelo não estava mais lá... sumira.
Um arrepio tomou conta do corpo do bombeiro. Seu companheiro ao lado perguntava como ele conseguira ver a criança a tempo; Marcelo não dizia nada. Só conseguia pensar em seu filho, fitando a mulher que abraçava o menino.
Seguiu seu destino, para a suspeita de parada cárdio-respiratória.

Um anjo! Só poderia ter sido um anjo que o avisou!

“De fato, é possível que Deus exista.”

Fernando Dimitri

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